Ao som de Black Eyed Peas e Beyoncé tudo parece parvamente alegre. É uma óptima banda sonora para estender roupa e consegue até sobrepor-se ao barulho opressor do aspirador. É de facto tão saltitante e inconsequente que uma gaja às vezes pensa que a quer adoptar como BSO para a vida.
Até que, de uma das pilhas de tralha de papel e plástico que nascem, crescem e se reproduzem na minha secretária, cai ao chão a capa do "Strangeways, Here We Come", a provar-me que a leveza do ser é realmente insustentável. E assim sobe exponencialmente a qualidade do som deste fim de manhã... E instala-se a verdade.
Passa-me na testa uma película a sépia que não via por estas bandas há largos meses. Eu, sentada na mesma cama, noutro quarto. Os meus irmãos, de pé. Três nós em três gargantas.
Adoro os meus irmãos tanto como as minhas pernas. Obviamente não pela elegância das linhas, mas porque me permitem avançar.
Um comentário:
Era uma cassete mal gravada de um dos meus 3 irmãos. Aquela era a única música que estava incompleta. As vezes que a curiosidade me deu a volta à cabeça. Como seria para a frente? As crianças no recreio. A harmónica... a voz... tudo me fascinava.
Doze anos depois, sem nunca ter associado o grupo a um dos mistérios que trazia de infância, foi-me dado a desvendar a música até ao fim.
Conspirou o Universo (gosto de pensar assim) para que o leitor de Cds avariasse a meio de uma viagem de 4 horas. Tive de me contentar com o rádio foleiro do telemóvel. E eis que na única estação que conseguia apanhar sem muitas interferências, pela primeira vez, ouvi a música por completo.
Levei quase metade da minha vida sem saber o que estava para além dos primeiros 90 segundos...
http://www.youtube.com/watch?v=jiEwMkWm7hc&playnext_from=TL&videos=YkDQi3dcf64
Foi bom.
:)
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