sábado, 1 de dezembro de 2012

As coisas que dantes fazíamos

são tão parvas assim que as deixamos de fazer.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A parte boa do acordo ortográfico

é que pode ser que finalmente se passe a escrever contrato em vez de contracto.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A esta hora

sou só eu e ela. Eu mastigo funebremente as minhas torradas, ela passeia-se, saltitante, enrolada na toalha de banho. Acho que ela vai sentir a minha falta.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Só para comprovar

que uma mulher só volta a escrever quando é deixada.
:')

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Ele diz-me coisas que nenhum homem me disse antes

"Vai tu tomar banho primeiro, que és mais rápida."

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Aquela rapariga

que tem um sorriso franco, que joga qualquer desporto, que atende sempre o telefone, que abre as portas de casa, que cozinha bem para todos, que bebe cerveja e vinho tinto, que sabe dar vários nós, que tem sentido de humor e um doutoramento, que sabe de música, que sabe ouvir, que é criativa e faz, que faz a malta feliz.

A mesma rapariga que nunca foi bonita, que nunca gostou de alguém menos do que gostaram dela, que sempre quis mais do que o sentido abraço, que quer tanto filhos e uma casa cheia para cozinhar e fechar as portas.

A rapariga que é tudo o resto e que nunca foi bonita.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Precisa-se de menino preto

para se sentar no meu colo e tirar uma fotografia. O meu perfil na rede está pouco social.

domingo, 10 de junho de 2012

O Primavera Sounds, depois do Primavera Sounds.

Os senhores da Ípsilon e assim são obrigados a deixar os artigos prontos na secretária antes dos concertos acontecerem, a sério. Eu conto como foi realmente o OPS Porto até agora, sem dizer "etéreo" nem "hipster".

Os The Drums queriam ser os The Smiths mas já não dá, já houve uns desses. Suede foi muito bom. As grandes expectativas em relação a Beach House derreteram-se numa coisa assim morna, com o alinhamento mais aborrecidamente criterioso que já se viu. Tanto M83 como Saint Étienne fizeram os camisas-de-flanela mais resistentes abanar o rabiosque, pimba tomem lá. Os Kings of Convenience queixaram-se de que o barulho dos outros palcos não os deixava entrar no mood certo para tocarem as músicas que queriam. Ainda esperámos todos um bocadinho em silêncio que acabasse o outro concerto porque eles pediram (juro, aconteceu, foi confrangedor), mas depois lá tiveram que tocar outras. Foi uma pena, as músicas que eles queriam mesmo tocar eram de certeza as boas. Uma das grandes surpresas foram os XX. Meteram muito medo às pessoas com aqueles olhos arregalados no vazio e a verdade é que resultou, toda a gente escutou com muita atenção e emoção contida. Mentira, alguns choraram, eu vi.

No geral, o Primavera Sounds foi muito fofinho, havia sacolas de pano que se transformavam em toalhas de pequenique e bolsas pequeninas que eram cinzeiros. Estava tudo muito organizado, havia pouquíssimas filas apesar do mar de gente, os concertos foram muito pontuais e o espaço esteve bastante asseado, até porque 70% eram estrangeiros e usavam de facto os contentores do lixo e os cinzeiros. Também havia um wine bar que servia em copos de vidro com pé. Um festival decente, sem dúvida a repetir.

Se a direita tivesse um Avante, podia perfeitamente ser este.

sábado, 2 de junho de 2012

1992

A Sara. A Sara tinha um rosto perfeito, simétrico, a pele orgulhosamente branca, o cabelo naturalmente preto. Magra, as clavículas salientes emolduravam-lhe a face e quase distraíam de um peito farto, rijo e empinado. Fazia teatro, usava veludo e preto e andava em biqueiras de aço. Quando se descalçava ficava pequena, podia ser outra, uma qualquer, pensei eu algumas vezes. Gesticulava com precisão e queria estudar ciência política. A mãe limpava casas e o pai fazia reparações de cabos telefónicos na Portugal Telecom. Um dia caiu de um poste e morreu, ali na rua, ali, naquele minuto, no chão da terra onde sempre viveu. A Sara disse-me que eu devia ouvir o novo álbum dos Cure, o Wish. A música 8 era a única coisa na vida que a fazia chorar.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Os portugueses

não se podiam borrifar mais para o ambiente, andam de ponta em mola e batem na mulher quando chegam do trabalho. Olha que novidade.



sexta-feira, 11 de maio de 2012

Miopia

Família da família, o Adriano via ao longe. Não todos os dias, mas em noites em que as mais antigas companhias me avisam que chega disto e que fizeram as malas, preocupa-me perder por geração uma fatia de poder de enxergar além.

terça-feira, 8 de maio de 2012

O meu homem

apanha-me os livros quando vou para o banho e lê as páginas que eu li, para não me perder pitada.

domingo, 6 de maio de 2012

Prioridades troikadas

Do mal o menos, quero acreditar que a actual proliferação de golpes do baú é um efeito colateral da crise.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

apoio mural

acto de compaixão que consiste em carregar no Like de um post com 3 dias sem fãs nem comentários.

Toma lá, Nicha.

Filha, se sonhas com ele todos os dias, é porque ele é provavelmente o homem dos teus sonhos.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Era qualquer coisa assim

- Marriage is like a room with a window you can't open. No, no. Marriage is like a room with no windows. And the room keeps getting smaller and smaller by the day. There comes a time when you simply must get out of it.
- You just married the wrong man, I suppose.
- No. He married the wrong woman.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Hei lá

Vinha aqui mexer isto com um pau a ver se ainda respirava e ia aproveitar para mandar umas postas de pescada, mas abri um ou outro blogue e deu-me a vergonha de não levar isto com mais seriedade e comprimento. Assim, muito respeitosamente vos deixo apenas um notável sonoro de outrora, que propiciaria jeitosas inspirações.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Como estragar um dia perfeitamente razoavelzinho

"O gato vai no carro connosco."







O_o

terça-feira, 3 de abril de 2012

airports and broken hearts

Se ele voltasse hoje, cheirava-lhe as calças de passagem, fingia que não me importava, dava meia volta a abanar o rabo e ia à minha vida. Quando me quisesse fazer festas, eu espreguiçava-me e abria a boca e ia beber água. Só dois dias mais tarde, quando me apanhasse a despertar de uma soneca ao sol da tarde, é que lhe dava uma lambidela amorosa e distraída, porque me esquecia por segundos que estava triste como a noite, engasgada de angústia, por me ter deixado tão sozinha com o resto do mundo.




quinta-feira, 29 de março de 2012

Ouvi e chorai

e lembrai-vos que a vida é isto. O resto é resto e sobra.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Eu não preciso de muito para viver.

Dinheiro chega-me. Bastante.

quinta-feira, 15 de março de 2012

il messaggero non e importante

Chegou a casa, pousou a chave no chaveiro, tirou a trela ao cão e esperou até a ver para decidir se dizia ou não dizia. Era coisa pouca, a história de um homem ao telefone na rua. Não sendo nada de especial, dava uma conversa de circunstância entretida.

Encontrou-a na cozinha, as calças compridas a arrastar pelo chão, a fita de casa no cabelo. Batia ovos para cobrir o empadão. Oh como ele gostava de empadão. E de a ver a bater ovos. Quase se esqueceu do senhor ao telefone e do segredo indizível. Ele não era homem de fazer conversa de circunstância, e suspeitava que ela se inteirara já do mesmo. Daí a perceber o seu segredo, aquele que o fizera parar no passeio, o cão a puxar da trela, e olhar o outro homem com compaixão, não tardaria muito.

Calou-se ainda em silêncio, assentou-lhe a palma da mão no rabo e comeu-lhe o pescoço. Era melhor assim.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Parece a Enya a 45 RPM

e a letra é pegajosa, mas há qualquer coisa pelo meio que soa lindamente. Não sei o que é mas pouco releva.

Até que a vida vos separe

Há diálogos que não me largam, troços inteiros de discurso que sei de cor, que oiço e repito condicionadamente. Alguns não parecem sequer relevantes, espécie de carrapatos da memória, outros encerram casos que ainda hei-de entender por força da repetição, e uns poucos são aquilo em que me confirmei por travessas vias da promiscuidade dos carácteres.

Acontece, eu já vi, que esta memória sonora se perde quando escrita. Regista-se, descansa-se, está a salvo finalmente, enterrada, no fundo, cada vez mais fundo até que se perde, desprende-se do indivíduo.

Não queremos isso.

quarta-feira, 7 de março de 2012

terça-feira, 6 de março de 2012

As certezas

são os novos gatos.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Que Faz Um Homem II

1. Uma barba grisalha.
2. Mãos certas.
3. Um pescoço moreno.
4. Uma barba grisalha.
5. Adorar o mar.
6. Falar baixo.
7. Querer pequeno-almoço.
8. Um peito duro.
9. Havaianas no verão.
10. Uma barba grisalha.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Não se morre devagar.

Morre-se num instante muito preciso, o mesmo segundo em que és e deixas de ser.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Não vou fazer trocadilhos

Porque é que os homens nunca fecham os pacotes?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Dia de fim bom

Bam, bato a porta. O volante queima do frio, ligo o motor e puxo o casaco ao pescoço. Vou para casa sozinha, o nariz gelado. Na rádio que toca as demos das revelações indie de 2013, ouve-se the thing that you'll never ever possess, no, no, no, o Otis Redding a tocar escondido a desoras. Só pode ser o fim de um dia bom.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Já é amanhã.

Ainda não foste?

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

On love and cooties


A ameaça de greve do futebol

Caraças, e nem os serviços mínimos garantem?
Mau fisco, fisco feio. A atrapalhar-nos a vida assim, não pode ser. Então e as crianças?

http://publico.pt/1530969

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Midi

Quando éramos pequeninas tínhamos um piano a pilhas da Yamaha que dava bonitas músicas só com um botão. Eu fingia que tocava e ela esperava por vez para praticar as escalas, aborrecida pela minha infantilidade.
Para mim, ela continua pequenina. :')

Já era da comunicação.

Primeiro as pessoas falavam.

Depois vieram os telefones e as pessoas ligavam para casa umas das outras e perguntavam se cicrano estava e, se sim, ouvia-se o som dos chinelos de cicrano a bater chão fora e o barulho do exaustor e às vezes ao fundo a voz de um homem mal-disposto.

À terceira era pôs-se fim a esta violência da intimidade sonora. SMS. Prático, rápido, barato, sem qualquer tipo de frincha sobre a repulsiva vida do próximo.

Depois veio o Facebook. A vida em ambiente azul seleccionado. E as pessoas escrevem aquilo que sabem que tu queres ler, e tu dizes as coisas que reescreveste quatro vezes até ficarem suficientemente crípticas para só aquela pessoa, só aquelinha mesmo, entender ou, melhor ainda, não entender ao certo mas cismar na ambiguidade da mensagem. Outras vezes não filtras nada e é um forrobodó de comentários e não faz mal, porque tu além de gostares de Ingmar Bergmar também és assim, tens esse selo de Party Animal. Ah, espera, isso era no Hi5.

E eis chegado o dia em que as pessoas se calaram. Tudo o que escreverias está no 9GAG e vem com cores.

Deixei-o na prancha.



Vai fazer-lhe bem.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Tens uma semana.

Podia dizer que passámos um bom bocado, podia fazer-te acreditar que as coisas vão ser vazias sem ti e que contigo aprendi tanto. Mas mentir dá trabalho e tu dás-me tanto fastio. Sete dias. É bom que cheguem para te pores a andar de minha casa sem deixares rasto.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Caramba, não sejam assim.

Os meios de comunicação social agarram-se constantemente a pequenices com o objectivo óbvio de distrair as massas do que é verdadeiramente importante. Durante dias há audiência garantida em torno do "lapsus linguae" deste ou daquele representante político. Eu cá acho muito pouco nobre e ainda menos inteligente que se compactue com isto, que se continue a alimentar de bandeja a máquina mediática de sanguessugas das palavras em falso.

Caramba, toda a gente sabe que não era exactamente aquilo que o Cavaco queria dizer. O que o Cavaco queria dizer é que, face às despesas que ele tem, o dinheiro é pouco. E ele tem muitas despesas porque desde cedo estudou muito, por conseguinte tornou-se muito bom naquilo, consequentemente teve bons empregos com bons salários, investiu bem o dinheiro, adquiriu imóveis e formou família. Hoje em dia, a simples manutenção deste património não sai barata, naturalmente. Qualquer um entende isto e qualquer um pode fazer o mesmo: estudar.

Este episódio lembra-me aquele recente alvoroço em torno das palavras de Ferreira Leite sobre o pagamento inevitável dos cuidados de saúde. Toda a gente sabe que a senhora não queria propriamente enviar para a vala comum os septuagenários da hemodiálise, está claro que não. Agora que podiam ter educado melhor a sua função renal, isso podiam. Se todos os portugueses trabalhassem mais para a excelência, como o Sr. Cavaco e a Dona Ferreira Leite, pois está visto que escusavam de andar para aí a mendigar tostões ao estado e a esmiuçar as palavras inocentes de quem trabalha a sério.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Travessia no deserto

A expressão veio da boca grande e vermelha de uma mulher pequenina. Tem quarenta anos e descrevia os seus trinta. De alguma forma me revejo e suponho que todos nos revejamos, neste estádio, quando não estamos distraídos por fraldas com cocó. Ao fim e ao cabo, três décadas são um tempo razoável para deixar assentar a euforia das expectativas e ansiedade dos projectos que se formulam em catadupa desde os oito, nove, dez. Por outro lado, é um prazo também expectável para a expiração do prazer que nos deram pessoas e práticas desde as primeiras escolhas sérias. É, portanto, um estádio propício a um novo ciclo de escolhas, escolhas que levam tempo porque não se sabe o que se quer, é certo, mas sabe-se irritantemente bem o que não se quer. E então nasce a sensação de silêncio, de solitude, de morna calma zumbida que faz o deserto.

Até que toca o telefone. É mais um que se divorcia, quer saber como estás, que tantas vezes pensou em ti, que não o julgues por isso, andou em círculos e não atravessou nada, e que tal um cafezinho.

domingo, 8 de janeiro de 2012

tau-tau

Esta é uma daquelas músicas atípicas, músicas que apanham instantes em que não era suposto sentirmo-nos assim. Mandar uma coisa bonita para as urtigas e começar de novo, porque tanto as coisas bonitas como as feias perdem a razão de existir e já se viu muito disso. Agarrar nos tomates e bazar, deixar tudo para trás. É uma das capacidades mais extraordinárias que cada um leva em si, essa de soprar e mandar foder tudo o que construiu. São momentos de adrenalina pura, os que vêm da devastação total combinada com a única certeza de que de agora em diante tens uma puta de uma tábua rasa para começar de novo de forma diferente, nem que seja para ver se os fins são os mesmos quando os começos são outros. Experimentar, nascer e nascer outra vez, saber mais do que a conta. Raios me partam se entendo os enconados que se arrastam na merda morna todos os dias, todos os anos, porque é tão lindo pensar que a vida exige sacrifícios e somos tão mais nobres quanto mais perseverarmos no quentinho. E a gente sorri-se com sorriso de "fui uma má menina" porque devia estar pesarosa e não está, está contente porque varreu tudo a lança-chamas e agora há mais mundo para ver.

Ah, e isto é capaz de ter alguns palavrões, vejam lá os vossos filhos.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Sabes que estás velhinho

quando as músicas novas que te entusiasmam são as que te lembram outras.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Se tem mesmo que ser

Resoluções de ano novo:

- não meter champô nos olhos
- evitar trincar o lábio pela segunda vez no mesmo sítio 
- aguentar mais 12 meses sem guarda-chuva
- não ter aranhas no carro
- não ter um cão
- crescer 4cm