sexta-feira, 29 de julho de 2011

1995 é tão este ano.

Hmmpf.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Arrumar as botas

para ir de férias:

- uggs;
- protector solar;
- chapéu de cowboy;
- barbatanas;
- Hit Parade 1995;
- toalha;
- touro mecânico.

Acho que tenho tudo o que preciso para sobreviver na ilha.

sábado, 23 de julho de 2011

Quem espera.

A espera é subvalorizada. É no fundo na espera, e não na chegada, que se concentram as emoções mais intensas. Quando se espera tudo é possível, enquanto se espera percorre-se velozmente uma gama de emoções em potência e vive-se com a pele cada um dos cenários imaginários.

Veja-se eu, por exemplo.

Disse ao empregado que ficava à escolha dele. E agora estou para aqui a saborear, à vez, a de vinho branco com laranja a sério, a de vinho tinto com citrinos e mirtilos, a de Cava com frutos silvestres e a de espumante com citrinos e morangos. Quando a minha sangria de facto chegar, não tem como não ser uma desilusão.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Rigardia

Ele perguntou-me se gostava deles. Eu não os conhecia. Dois dias depois, à frente de outra banda, entre nuvens de pó, eu estava tocada e esforçava-me por disfarçar que aquilo me estava a dar vontade de chorar. Tenho um amigo que é caladinho mas quando está com os copos fala muito das coisas que lhe entopem a garganta. Estava ao meu lado. Ainda bem, distraiu-me da minha lamechice insólita de cidra e vodka. Falou-me dela - falas sempre dela - e falou-me da música dela e das músicas que ela gosta. Perguntou-me se eu gostava deles. Sorri, os olhos húmidos -, acho que não reparaste - e respondi que sim, tinha descoberto há pouco que sim. O resto das coisas que disse perdeu-se no pó da minha cabeça.

"Rigardia" é um neologismo da autoria de dois linguistas portugueses - um deles não está certo de o ser, procura caminhos ainda - e vem suprir um fundo vazio de sentido que a língua tinha vinho a descurar: a cadeia de referências contextuais espoletada num curto espaço temporal por uma descoberta com significância para o sujeito. Ainda que este não o saiba de antemão.

Três dias depois, no escuro do "Les Petits Mouchoirs", levava com isto na tromba e sorria, rendida ao neologismo.



Nota: Eu não posso, por princípio, escrever aqui crítica cinematográfica. Sofreria penalizações em forma de chacota. Tenho amigos pouco tolerantes, sim. Mas digo baixinho que não percam o "Les Petits Mouchoirs".

terça-feira, 19 de julho de 2011

Uma pergunta e uma musiquinha para enfeitar

Até que ponto mudar o sítio onde se vive é mudar de vida? Às vezes parece-me muita parra.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Facto sobre o SBSR

Tem quota obrigatória para portugueses.


Assim deduzo pela presença dos Gift.

domingo, 10 de julho de 2011

O arquétipo da paixão

Conhecemo-nos a ler uma história épica de amor, sangue e vingança, Das Nibelungenlied, e vivemos os dois alguns anos.

Ele abraçava-me com muita força todas as manhãs, como se tivesse acabado de voltar de uma plataforma petrolífera na Líbia. Não dizia uma palavra porque acordava sempre de mau humor e só falávamos depois do almoço. Quando metia a pata na poça, gritava e lacrimejava de raiva e saía porta fora para voltar 20 minutos mais tarde com queijos, uma caixa de húngaros e um vinho debaixo do braço. Os húngaros eram para ele. E apertava-me as mãos nas dele, que tremiam enquanto abria muito os olhos brilhantes para mim.

Vivia-nos como se amanhã pudesse não haver. Adorava-nos sagradamente e antes de todas as coisas. Não gostava de pessoas, só gostava de mim, do cão e de dois bons amigos. Um deles era o cão.

Como tudo o que se repete, eu achava aquilo normal e frequentemente enfadonho. Pedia-lhe comedimento e ponderação, dizia-lhe que os abraços me pisavam nas costelas.

A imagem dele cravou-se em mim como o arquétipo da paixão. Sei-o, inevitável. Não espero que todos os homens sejam assim. Não quero que todos os homens sejam assim. Mas espero que, quando o mundo se afunila nele e lhe aperta os tomates, que seja capaz de um salto arrojado, que seja incapaz de pensar amanhã, que se dispa para sair à rua, que se ofereça à vergonha e se nauseie com o morno, que faça hoje todo o ridículo que as pessoas fazem quando se querem com força, porque a vida não dobra, só parte, e amanhã nós já não somos.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Cuspir para o ar.

Encho a boca com aquela teoria de que da vida se quer levar tudo, bom e mau. Uma vez até comi mão de vaca ou pé de porco ou lá o que era só para ter razão.

Sabia contudo que, mais tarde ou mais cedo, o cuspe me havia de cair em cima. Há primeiras vezes perfeitamente escusadas. Desistir é uma delas.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Acabou.

E enquanto as mulheres procuram respostas, os homens chutam perguntas. A torto, a direito, à esquerda, atrás. Todos os caminhos seguem em frente.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Encetar, enxertar.

Voltar a um sítio que já foi habitual produz uma sensação de confusão e estranheza ante a pessoa que fomos e entretanto deixámos de ser. Eu às vezes olho para o espelho, só quando não há barulho nem pessoas, e vejo-me como se fosse a primeira vez, uma estranha, e desvio os olhos e evito o contacto embaraçoso com aquele ser. Gostava de saber que não sou a única porque isto me faz obviamente duvidar do meu equilíbrio anímico, já para não dizer saúde mental. Adiante, os lugares habituais.

Pelo contrário, em raras ocasiões temos o privilégio de tomar consciência do momento em que instauramos um hábito. Se assim fosse, memorizaríamos a porta em que dorme o sem-abrigo para nos lembrarmos de entrar pela outra, atentaríamos na laje solta do corredor para evitar tropeçar da próxima, sorriríamos desde logo ao senhor da bilheteira porque queremos doravante ser bem tratados, procuraríamos o cartaz dos gelados porque se é Camy não interessa e compro o meu corneto de nata lá fora, veríamos se há máquina de tabaco para não praguejar na vez seguinte, perceberíamos qual é o ponto com mais luz para ler e leríamos de facto o preçário do parque de estacionamento. Mas não. Os lugares habituais raramente se adivinham. Quando tomamos consciência de um hábito, já ele se instalou em nós de jornal e pantufas, e olha-nos por cima dos óculos, a sorrir sacanamente.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

também é bonito de ouvir sem som

tem asiáticas e homens amarrados em camas.

(isto estava a começar a abichanar mas reparei a tempo)

O que arde cura,

o que aperta segura, o que dói apaixona.

sábado, 2 de julho de 2011

mal passado

Atravessava a avenida com passos rápidos e olhos no chão, em sandálias vermelhas. De paralelo em paralelo, disparavam imagens de outra noite em que atravessava a mesma avenida em sapatos diferentes. Em mãos diferentes.

O desafio do presente, para quem já leva uns anos nos ombros e nas pálpebras e nas coxas é esse mesmo, o de dosear o passado. Injectá-lo em doses certas é sensato e produtivo, enquanto que ignorá-lo ou mesmo recalcá-lo é desintegrador e resulta na maior parte dos casos em cenários desastrosos, como quem não adivinha um crash pelo preço da tulipa.

As relações aos trintas sofrem inevitavelmente da falta de novidade. É a vida. Ela já aconteceu, e várias vezes. Apaixonar-se por alguém e sentir-se amado depende em pesadíssima parte da mestria da arte do faz de conta. Faz de conta que nunca aconteceu, faz de conta que é novo e que pode levar a qualquer lado inusitado, mesmo quando já sabemos de cor as coordenadas do destino. É de fulcral importância acreditar nisto ao ponto de fazer o outro acreditar também e de assim se sentirem ambos únicos. Sentir-se único a dois é vital e é muito frágil. Simultaneamente, é imperativo contornar a tentação da omissão - quando é que é lícito não dizer que já estive aí e já fiz isso? - e, sobre todas as coisas, fugir desesperadamente da pouca inteligência da mentira, da estranhíssima vergonha de assumir o que somos com o que fomos, incluídos os seus ciclos e falhas e aparatosos embaraços repetidos.

Fazer de conta para ser a sério. Quem diria.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

As pessoas que escrevem bem incomodam-me

Vinha muito contentinha escrever uma coisa sobre bolachas de água e sal quando, inevitavelmente, leio umas coisas bonitas, coisas humanas, escritas de forma bonita e com letras. Despretensiosamente. Estes acontecimentos dão-me vontade de ouvir Elvis, tiram-me o apetite e envergonham-me do que ainda não escrevi sobre as bolachas de água e sal.

Portanto agradecia a essas pessoas que por favor não escrevessem mais nada de jeito e que descurassem a técnica. Se querem insistir em comportar-se assim, que vão fazê-lo para locais próprios.