segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Química

Nutro um instantâneo apreço por homens com mãos a cheirar a diluente.

Eu sei, eu sei, pode ser perigoso.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Worksong

Quando estou mesmo a dar as últimas, quando acho que já não consigo parir um pensamento original nem escrever mais uma linha académica, só tenho uma salvação: Tonight We Fly em repeat.
Nem sei bem porquê, mas sei que acontece desde 2005, ano em que trabalhava numa escola durante o dia, dava formação a camionistas à noite e tirava uma pós-graduação nos intervalos.
A minha vida era bem mais calma então.
Vamos lá a ver se hoje funciona e se ainda apanho um avião.

O meu pior pesadelo

é tornar-me numa daquelas pessoas que falam de blogues e bloggers como se fossem coisas a sério.

Acho que sonhei com isso hoje. Aí entre as 13h30 e as 15h00.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Porque ninguém me garante que não esteja aqui amanhã,

tenho que tratar eu própria do assunto.

Ou nem isso. Onde é que se come bem em Barcelona?

Linguística descritiva é isto.

Isto está... digo-lhe, menina. Os juros sobem de vento em pouco, como se costuma a dizer, não há trabalho, noutro dia na farmácia uma senhora foi-se embora que não tinha como pagar os remédios... Isto é viver em condições imploráveis. E a mim só me faltava esta, cortar o dedo! Agora quero trabalhar e estou ilimitada, nem sei para onde me hei-de virar.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A countenance more in sorrow than in anger

Às tantas não devia ter ido aos fados.

Às tantas queria ter-me esquecido que já lá vai um mês de Cavaco e que me mete asco.

As tantas vezes que me intrigo sobre ti põem-me triste. Mesmo ao longe na terra e nas horas, puseste-me triste. Não digo que por ti exactamente, mentira que pareça. Muito mais pelo que me mostraste que um homem - um homem bom - é capaz de ser e, pior, incapaz de ser. Isso mói mais que mil partidas, porque é humano e fica para sempre.

E sim, esta é para ti, Mr. B. Às claras.

Maré de optimismo

São 17h51, o meu carro foi rebocado, dou exame na faculdade às 19h30, os enunciados estão dentro da viatura e eu acho que vai correr tudo bem.

Ladies and gents, place your bets.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Há chineses menos certeiros


There are some things we shouldn't have a back-up plan for. One of them is love.




Stanley in American Dad


fodida de ler, esta letrinha, não é?

Hoje tive medo, porra.

Recebi uma chuvada de sms depois das 24h e, como de costume, não respondi. Mas desta vez o tipo ganhou tomates e escreveu "Se não respondes não saio da tua porta até teres que ir para o trabalho amanhã de manhã." E eu, que não estava em casa, fiquei com um certo receio de voltar. Um certo. Mas voltei.

Entrei disparada pela garagem, não fosse o palerma tecê-las, e qual não é o meu espanto quando se cola à minha traseira um carro desconhecido, que estaciona no primeiro lugar à entrada. Subo a rampa para o meu, sempre a olhar pelos espelhos, desligo tudo, abro a porta decidida, bato o tacão com força até à mala (sei lá porquê, achei que me dava um ar de ninja sob disfarce suburbano), saco agilmente do pc, bato a mala com violência, vejo-o a desligar as luzes e a não abrir as portas, fecho as minhas, sempre tudo muito rápido e coordenado, bato o tacão até à porta de metal, empurro-a num estrondo, chamo o elevador, penso Ai mãezinha que é desta, oiço o eco metálico da porta durante os sete penosos segundos de espera, tiro as chaves da carteira, telemóvel na mão direita pronto a ligar para o homem de 1,80m geograficamente mais acessível, o elevador chega, Porra que és lento!, salto lá para dentro, ainda oiço ao longe o eco interminável da porta pesada e...

...nada. Nadinha de nada. A não ser agora uma ligeira enxaqueca causada por todo o chiqueiro sonoro à minha volta. Irra, que exagero o meu. É tão óbvio que não há tomates que caibam em 160 caracteres.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Nada pode ser bom.

Tínhamos ido antes ver La Traviatta e a Carmen e eu não tinha gostado. Nesse dia íamos tentar a Madame Butterfly.
O cenário era amarelo e mexia-se, tinha vindo do Scala de Milão. Vivi durante duas horas aquela rara sensação de não saber para onde me leva a música. É uma estranheza preciosa, dificilmente acontece, por força do treino do ouvido e pela escassez de intérpretes brilhantes, como era o caso. A ilusão de recuperar o tempo em que as coisas nos surpreendiam é um truque só ao alcance da arte e do nariz, eu acho. Durante duas horas vivi pequena e deliciada por uma angústia amarelo-turvo.

Ontem liguei a televisão e fiquei muito feliz quando percebi que não sentia nada. Absolutamente nada.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Oh Catarina, e se tu te deixasses de merdas?

It would degrade me to marry Heathcliff now; so he shall never know how I love him; and that, not because he's handsome, Nelly, but because he's more myself than I am.

W.H., Catherine Earnshaw (Ch. IX)

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Passo 9

No ano passado, em Riga, ainda não conhecia a blogosfera. Oh, conhecia, claro, mas não fazia ideia para que servia. Não fazia mesmo. Estava num bar montado numa casa abandonada. Tinha várias salas, muitas sem tecto. No quintal projectavam um documentário sobre o cinema da década de 40 e havia quem o visse de facto, apesar do frio. Em Riga há pessoas muito espertas. No andar de cima - subia-se pela escadaria com um tecto de heras e lâmpadas embrulhadas em papel celofane colorido - havia um barman sisudo e bonito a quem pedi rum. Eu não sei flirtar, é melhor avisar já. Nunca soube sorrir pela primeira vez, só sorrir de volta e pouco convincentemente. Mas não sei lá porquê, achei que aquela era uma boa noite para tentar e lá encenei um esgar de flirt. Não havia rum. De três marcas de vodka, tive que escolher uma. Também não havia sumo de limão. Nem de laranja. Troquei com o homem tantas frases e acabei a beber vodka com um sumo espesso de ananás e sem lhe ver os dentes. Quando voltei à sala com bancos de automóvel e spectrums pendurados na parede, encontrei a R. não surpreendentemente rodeada de homens. Riam e bebiam e contavam histórias dos seus países. Um não. Tínhamos duas pessoas de distância e pouco mais, percebeu-se depressa. "I'm a linguist" não costuma receber de volta um "So am I". Falámos de Chomsky e de fonemas, eu sorri ao de leve e ele sorriu mais do que eu. Fomos juntos para o hotel e despedimo-nos à porta. No dia seguinte acordei em Trinidad y Tobago e nunca mais pensei nele até hoje.

Assim, acho que devo a alguém um pedido de desculpas. Um daqueles grandes, enormes, totalmente irrelevantes, de quem não fazia ideia da dor que causava, de quem não sabia mesmo que o tempo era um moinho de pimenta, grrrkk, grrrrk, grrrrk. Via a vida como um play-doh, esticável e mutável ad eternum. Desculpa. Diria ainda que me lembro de ti deitado na cama de olhos abertos e inchados e que te admiro o estoicismo. Diria diverte-te em Buenos Aires e boa sorte com as aulas de pintura. O risco de soar condescendente e quiçá cobiçosa refreia-me o ímpeto, porém. Podes estar descansado. Era só mesmo isto e até o digo baixinho: desculpa.

Ah, e também não "posto" a Talk Show Host.

Podíamos ser tão felizes,

eu, tu e o lítio.

another year

Tão realista que dá sono.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Fala-me do teu produto interno,

bruto.

por J.E.S.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Como na barraca dos cachorros,

queria a vida com tudo a que tinha direito.

Saiu-lhe o tiro pela culatra e deu molho.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

as prateleiras do nosso descontentamento

E de vez em quando lá aparece uma pessoa boa, uma pessoa que bem podia ser uma romã no Minipreço, pega-se, olha-se de um lado, olha-se do outro, sente-se-lhe o peso, vê-se-lhe o brilho, sabe-se exactamente o que está dentro, e prateleira com ela, deixa-te ficar aí sossegadinha para um dia em que me apeteça dar-me a essa carga de trabalho por um doce. Somos feios, nós, todos, e as nossas prateleiras apinhadas.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Vodafone FM

anda à procura de locutores.

Esperemos que não encontre, porque para já está muitíssimo bem.


Chega de sarcasmo em torno do Valentim

Viver sozinho é triste. Viver sozinho é descoroçoante. Descoroçoante é uma palavra que existe de facto. Eu pensava que tinha sido o meu pai a inventá-la, mas agora que descobri que está mesmo compendiada, só espero que tenha evoluído etimologicamente de "coração"- espero mas não vou verificar agora, são 7h30 da manhã, por amor de deus - porque era mesmo isso que eu queria dizer, viver sozinho arranca o coração, viver sozinho vira-nos os cantinhos dos olhos para baixo.

E, não me lixem, o 14 de Fevereiro traz essas evidências todas ao de cima...

...É que é véspera da entrega do IVA e não há uma alma carinhosa que me organize os putos dos recibos.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um quinto da minha vida

dei-o a um homem.

Em troca, lembro-me de ter recebido um saca-rolhas de Valentim.

Cheers, W.

Temos dois encontros

ir ao encontro de = estar em consonância/acordo com

ir de encontro a = estar em dissonância/desacordo com

Não é preciosismo, é só porque me confunde. Vou eu toda lançada para ler de uma boa disputa e vai-se a ver está tudo em paz e harmonia. A sério, vede lá isso.

E um feliz Valentim.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Wong Kar-Wai é quase tão mau como a minha mãe a dar conselhos.

Se te vires perdido, não saias do sítio.
My Blueberry Nights

Podia escrever um post pela manhã

Diria que chove, diria que sonhei com uma casa aonde já não volto. Podia dizer também que acordei e acordo recorrentemente com músicas bonitas a ecoar na cabeça em repeat para o dia todo. Deixam-me triste. Mencionaria ainda os domingos e a depressão pós-copos, aludiria à vida simples dos outros e aos meus quadros - dois velhos, dois novos - ainda por pendurar.

Seria um post longo porque teria muito para dizer. Enfadaria, seguramente. Outro post, um post palerma, um post sarcástico, um post inocente, não serve para hoje de manhã. O Richard Lanham ensinou-me em 2006 sobre a saturação de gordura no texto. Desde então, nunca mais consegui escrever uma palavra que fosse vazia.

Assim, não haverá post hoje pela manhã.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

That's all folk

Não sei se é da inocência do banjo ou se é do Ata-me a um poste, mas isto agradou-me. O que é preocupante. Diz que daqui à Shania Twain é um saltinho.

30 anos, 30 prendas,

disse ela. E foram mesmo, eu contei-as.


Cheira-me que ela está apaixonada por mim, só pode.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Oh,

obrigada... Não era preciso, a sério. Vocês estragam-me com mimos.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ex nihilo nihil fit

Tenho vindo a desenvolver uma apurada técnica de observação do mundo que consiste, passo a explicar, na detecção antecipada de objectos não desejados no campo de visão periférico para logo, atempadamente, os contornar num suave movimento ascendente ou descendente da órbita quando entram na visão central. É certo que ajuda quando têm bandeirinhas vermelhas ou "asap" em caps, mas a pouco e pouco começo a aplicá-la expeditamente a toda uma panóplia de situações, paisagens e indivíduos.

O problema é quando me barram a visão, como esta pilha de trabalhos por corrigir, filha da mãe, que não me deixa enxergar um palmo à frente do nariz. Nessas alturas rendo-me às evidências, baixo os braços e opto por escrever baboseiras com títulos em latim.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Posso só dizer uma coisa?,

diz ele de 4 em 4 minutos.

Pelos vistos parece que não, que não pode dizer só uma coisa.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

"No fundo do fundo",

repetia tantas vezes o Jeroen, no seu português esforçado, aos fins da tarde na faculdade de letras. Era um homem alto, bonito, nos seus 30s, incansavelmente sorridente. Sentava-se na mesa a olhar pela janela e contava-nos da origem holandesa de algum léxico brasileiro, como "brotinho", que vem de broodje, pãozinho. Nós éramos muito poucos e achávamos-lhe graça ao jeito levezinho de desentrançar as questões complexas dos cruzamentos de influências, culturas e fluxos de gentes nas composições linguísticas do mundo.

Hoje vejo o meu reflexo no interior dos vidros da mesma sala. Estou sentada naquela mesma mesa, perante alunos diferentes. Hoje sei o difícil que é ser-se simples, o complicado que é descomplicar. Sei das toneladas que pesa um esboço de sorriso ao fim da tarde. Lembro-me muitas vezes do Jeroen, do sorriso dele, dos olhos vagos, do peito pesado que tinha dentro uma mulher e uma filha que nunca mais viu. A história clássica da brasileira que pesca o estrangeiro, engravida, casa e foge com o dinheiro. Histórias em que ninguém cai. Ele, um homem nada normal, um homem inteligente, alerta, informado, caiu até ao fundo do fundo. Nos 10 anos que passaram, não voltei a tocar no assunto, mas fico com a sensação de que, se pudesse voltar atrás, caía outra vez.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Eu é mais sardinhas

A minha mãe guarda roupas, malas, perfumes e cremes para ocasiões especiais. Eu esfrego-me com esfoliante de 120 euros o litro, enrolo-me com a gommage microperlé da Chanel e besunto-me com cereja selvagem para ficar em casa num domingo à tarde. E não tem nada que ver lá com os lemas do leite que Se não fizeres o amor contigo quem fará, nada disso. É que faço qualquer merda para empatar ler o Piaget. Tenho exame daqui a umas horas e já li em tempos tudo o que queria do Vygotsky, portanto o meu parco interesse pela Psicologia faleceu em definitivo.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A estranheza

de tocar naquilo passado tanto tempo, de o colar à pele branca, de ter os pés nus, indefesos, de arrancar uma toalha do armário, descer furtivamente até ao carro e esperar que ninguém repare na pele de galinha e na leviandade do acto.
É hoje, o primeiro mergulho do ano.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

familiarity breeds contempt

As pessoas no trabalho reconhecem a mala que deixei numa cadeira e querem que vá jantar a casa delas. Está feito, vou despedir-me.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Arrumei as coisas

para não me lembrar.

E agora passo pelos sítios, vazios, e lembro-me que lá faltam as coisas que tinham antes de eu as arrumar.

Mas não faz mal, a sério que não faz mal. For well you know that it's a fool who plays it cool by making his world a little colder.

Schlep

Os machos da blogosfera desiludem-me. Nigellas, Natalies, Scarletts, pardais ao ninho... Então e a Sofia? Dios mío, a Sofia!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Obras Burlescas de Tomé Tavares Carneiro

Tenho uma relação esquizofrénica com bibliotecas. (*lápis azul*) Gosto da luz das janelas, do silêncio, das mesas sem pilhas de folhas, canecas de café e discos externos, das estantes com os livros todos direitinhos e da sensação que são meus, todos meus, das mulheres que prendem o cabelo com um lápis antes de manusear um manual franciscano com 150 anos, dos homens que vêem vídeos no Youtube. Não é sexismo, estão mesmo aqui à minha frente, não tenho culpa. Mas às vezes as pessoas das bibliotecas assustam-me. Ao meu lado direito está uma obra da Cidália Dinis (sim, isso mesmo, da Cidália Dinis) intitulada "Obras Burlescas de Tomé Tavares Carneiro". Primeiro veio um rapaz gordinho - nota-se que não contava que fizesse sol hoje, com certeza não tinha intenção de tirar a camisola e ficar com aquela t-shirt assim curtinha, mas ora bolas you can't predict the weather -, olhou para a Cidália, torceu o nariz e trocou-a pela Sónia Faria e o seu "O Objecto e os Museus de Medicina". A seguir veio um senhor de barba , óculos de massa, camisola de lã e... outra camisola de lã aos ombros..., trauteou qualquer coisa que me pareceu A Nacional mas pode ter sido só sugestão, passou pela Cidália e escolheu o António Coxião sobre "A Ocupação Humana na Pré-História Recente na Região entre Côa e Távora". Por fim chega o pretendente da Cidália, guarda-chuva na mão e mochila às costas - ao virar-se quase me dá com ela nas trombas, de tão excitado que vai -, risca ao lado e língua de fora (ok, este último dado já é capaz de ser produto da minha imaginação), agarra na rapariga e leva-a para o fundo da sala, para o recanto mais escuro de toda a biblioteca.

Parece-me óbvio que sou eu que estou a mais aqui. Vou-me pirar, como de resto acontece sempre ao fim da primeira hora e meia. Depois, claro, não tenho estudos.