quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Altamente

é tirar fotografias de baixo para cima a gente numa rodinha a olhar para o meio. Não sei quanto a vós, mas eu adoro conhecer a fundo as narinas das pessoas. E sei apreciar uma bonita papada.

Não tem como falhar, é espectacular. A sério.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

casar porque não

Um grande amigo pediu-me que no futuro o impedisse de casar, se alguma vez na vida lhe passasse a ideia pela cabeça.
Ora, eu até podia tentar, mas sei que não me sentiria muito confortável nesse papel. Em primeiro lugar, porque acho que não ia gostar da sensação das unhas de silicone da futura esposa nos meus cabelos. Em segundo, porque creio que neste tipo de coisas só a própria pessoa sabe do que sente, do que a motiva, só ela pode chegar à conclusão daquilo que afinal não quer. Não adianta alertar, advertir, exemplificar, aconselhar.
Digo o mesmo para gatos dentro de casa, drogas pesadas, molhos de menta, gel de cabelo, teorias didácticas, quadros amadores com pontes, touradas e namorados da JSD.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Lembro-me

das manhãs de sábado, quando me acordavas com um mimo no pescoço e eu me virava para o outro lado e tu me trincavas a orelha e eu desistia de dormir e pousava a cabeça pesada na tua barriga quente e tu resfolgavas, contente, mas não te chegava, querias mais, e olhavas-me com um ar desafiador e aproximavas-te devagarinho, afastavas-te de repente, e eu alinhava no jogo e cobria-me toda com os lençóis e tu desesperavas, puxavas o edredon e choramingavas por mim, não sabias da dona, onde estava ela, tu precisavas de vê-la. E eu emergia e tu uivavas muito e lambias-me, quase choravas, e pousavas a cabeça no meu pescoço e respiravas fundo. Eu percebo-te.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

ON/C

Num dia de Abril arrumei livros e pratos e lençóis e chorei. Enquanto chorava esvaziei armários, estantes, gavetas, caixas. E continuei a chorar. Limpei mesas, bancadas, varandas e aparadores. Durante 16 horas chorei.

Durante muito tempo pensei nesse dia e nessa surpreendente maratona de chorar. Queria ver-lhe um significado, atribuir-lhe um sentido. Porque eu não sou de chorar e desgostos de amor nunca tive. Erros de cálculo, sim. E diz que doem o mesmo tanto.

domingo, 19 de dezembro de 2010

A última ceia

Eu não tenho religião. Acho que também não posso dizer que seja ateia porque isso implicaria algum tipo de fé no contrário de uma coisa em que eu nunca acreditei. Não é por mal, a sério, só me parece um tanto disparatada a história da senhora que nunca fez sexo na vida e ooooops, caiu-se-me um bebé aqui pelo caminho, e do totó que diz que sim, claro, que assume a paternidade e que não foge com o ouro. Não vejo grande propósito em fugir com o incenso e com a mirra. A não ser que que houvesse hippies entre Belém e Jerusalém e aí o Zé fazia umas massas, até podia vender uns conjuntinhos bem bonitos de queimadores em carvalho escurecido com os pauzinhos de oferta.

Mas bom, fora o insólito do nascimento, eu até percebo como é que o Jesus granjeava simpatias. Para começar, era um tipo de barbas e cabelo comprido, com aquele mesmo ar alheado-sofredor do Kurt Cobain, coisa que inspira as massas. Depois, usava Birkenstock - ninguém tem coração para não gostar de quem usa Birkenstock, seria como não gostar de meninos do Laos para adopção. Por último, as tainadas. Venha lá quem vier, gajo que organiza jantaradas e multiplica o pão e o vinho à discrição é cá da malta, tem as ideias no sítio. Sabe que a melhor coisa da vida são os amigos. E as ceias.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Falando em momentos detestáveis,



odeio a Meg Ryan, desprezo este filme. Não mostra as melhores partes, corta as cenas quando elas iam começar a ficar mesmo, mesmo boas.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Saber perder

Eu tinha umas colibri transparentes que usava no verão. Galgavam os morros do Gerês e iam comigo ao rio, ficavam bem com a túnica do Snoopy e nunca me magoaram os pés. Eram umas boas sandálias. Aos oito anos os invernos são grandes, tão grandes que a roupa deixa de servir e o Gerês é outra vez desconhecido quando chega o verão. Não me lembro do dia em que as colibri desapareceram, mas lembro-me que foram as melhores sandálias que já tive na vida.

Quando descobri que gostava de anéis, a minha mãe deu-me um anel preto, um anel a sério. Era tão discreto e bonito que não passava despercebido a ninguém. Com ele aprendi que não é exactamente preciso fazer as bainhas às calças ou passar a roupa a ferro. Tudo se desculpa com um bom anel. Um dia lavei as mãos e deixei-o em Santarém.

Na idade em que se toma consciência dos avós, o meu avô perdeu consciência das pessoas. Durante anos, sorriu quando nos viu chegar, a meio caminho entre o intrigado e o agradecido pela companhia de estranhos num sábado à tarde num terraço ao pé da praia. Guardei para sempre a fotografia em que ele nos abraça vestidos de índios, perfeitamente alheio ao traje e às caras raiadas de vermelho e preto. Para sempre até ao dia em que a perdi num camião de mudanças.

Há um ano e meio perdi um cão, há uma semana um CD, este mês perdi um colar com 15 anos, há dois anos o melhor amigo e hoje perdi um homem de vista no trânsito. São vazios que eu prezo, vazios que enchem as coisas de sentido.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

"Wiwia, tu és fufa????"

Calma, mulherio. Eu gosto das coisas mais discretas.

Deixem-me os vossos números de telemóvel e eu respondo-vos em privado.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Dezembro 2011

Eu e a Teixeirinha vamos vestir-nos de Mãe Natal Sexy.

Eu de Mãe Natal, ela de Sexy.

(Deixa estar que eu anoto.)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Querido Pai Natal,

Este ano queria ser como as outras mulheres: saber dobrar cartas em três à primeira e arquivar facturas da água e luz direitinhas. Sem a parte da lobotomia, por favor.
Obrigada.

Beijinhos,

Wiwia

domingo, 5 de dezembro de 2010

Perdoai-os, que eles não sabem o que fazem.

- Homens que ligam 5 vezes, não são atendidos e ainda deixam uma mensagenzinha de "er... um cafézinho? já não nos vemux à tantos anos, era giro." Então não era, coração? Vai aprender a escrever e depois fala-se nisso. Ou falasse? Puxa, que isto é tão confuso.

- Homens de 34 que usam metáforas como "Gostava de andar pendurado na tua mochila." (O sentimento de vergonha alheia impede-me de sequer comentar.)

- Homens que oferecem colares a quase perfeitas desconhecidas a meio de um jantar com amigos (dela). E fazem a irmã dela ir a correr para o WC. E mesmo assim ouve-se o riso abafado ao longe.


Perdoai-os mas tirai-os da minha vistinha. O meu tipo de homem é outro. Néscio de outras formas.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Pôr em perspectiva.

Eu sou vulgar. Como todas as pessoas vulgares, uma das imagens que melhor retenho do Inception é a da cidade que se dobra e desdobra na primeira experiência da Ariadne como arquitecta onírica. É verdadeiramente impressionante e bastante simples.

Hoje vivenciei uma coisa muito parecida: caminhava na rua, empurrada pelo frio, quando recebo uma chamada que vira tudo ao contrário, muda a ordem das coisas e arruma o importante no sítio.

Da passividade e do pessimismo

Ultimamente as coisas andam diferentes. Não estou a cair em repetição porque ainda não o tinha dito. Acordo com a sensação de estar dentro num filme de Hitchcock, ando alheada durante o dia e nem saio à noite com medo de me constipar.

Face ao que me aborrece, mostro total inércia. Não faço, não mexo nem uma palhinha. E deixei de acreditar: perdi a fé de que as coisas são ridículas e de que há duzentas e catorze razões perfeitamente lógicas para que corram pessimamente mal.

Já não me lembrava de me sentir tão bem desde a última vez que dissolvi Zyrtec no champanhe.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Quem quer

uma menina muito bonitinha, extremamente prestável, com um dom invulgar para organizar conferências, entender-se com chineses, irlandeses e cães, fazer listas de toda a espécie e trabalhar arduamente, desde que seja na área da comunicação empresarial? Quem quer?

A sério, perguntem para o lado se alguém quer. Estou a isto de enviar um daqueles e-mails para doação de medula mas sem ser. Só com a foto de um bebé loirinho como captatio benevolentia e depois, zás, peço permuta de emprego para a menina de Londres.

O gajo

apareceu e assim do nada gerou um rebuliço de primeira apanha.

Vai-se a ver, vai já a procissão no adro e ele não reparou que eu existo - como?

Contudo, confessa-se feliz por não saber da minha existência. Logo, que razão tenho eu para lhe roubar esse sossego que será (imagino somente, mais e melhor não sei, já muito magiquei eu, se calhar demais) o de não me procurar aqui todos os dias? Por outro lado, que obrigação moral tenho de o informar, se nem sequer aos meus mais próximos informo, porque gosto disto sossegado para mim também?

Oficialmente, não percebo um caralho de -sferas. Certo é que tenho que começar a escrever como falo: com muitos palavrões. Foda-se.