Há diálogos que não me largam, troços inteiros de discurso que sei de cor, que oiço e repito condicionadamente. Alguns não parecem sequer relevantes, espécie de carrapatos da memória, outros encerram casos que ainda hei-de entender por força da repetição, e uns poucos são aquilo em que me confirmei por travessas vias da promiscuidade dos carácteres.
Acontece, eu já vi, que esta memória sonora se perde quando escrita. Regista-se, descansa-se, está a salvo finalmente, enterrada, no fundo, cada vez mais fundo até que se perde, desprende-se do indivíduo.
Não queremos isso.
segunda-feira, 12 de março de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Ás vezes queremos.
A maior parte das vezes.
Não, queremos sempre.
Mas não conseguimos.
oube lá, quando verbalizas um acontecimento, de forma escrita ou oral, perdes o que aconteceu e ganhas uma memória social. a verdade muda, a tua memória passa a ser a do momento da transcrição e não a do momento transcrito. acontece a toda a hora, até porque dizê-la, à memória, pressupõe pelo menos um interlocutor, e só lhe fará sentido se esse interlocutor conhecer (por dentro) toda a tua vida até então. por isso, para seres entendido, substituis partes fulcrais da tua memória por palavras, e isso é impossível. pôr uma vida em palavras. há palavras excelentes, mas há quem as use, isoladamente (frequentemente uma merda de um pronome pessoal), para substituir décadas e décadas de formação de personalidade. se o fazes arriscas-te tornar-te no teu próprio interlocutor, retendo a memória das palavras e não da vida. é como aqueles idiotas que gostam de filmes românticos.
Little Lil,
O que queremos é mais importante do que aquilo que conseguimos.
Li hoje na parede da casa de banho da faculdade de belas artes.
:o)
José,
Ora bem, então a gente faz assim: eu mando-te um esquiço daquilo que quero balbuciar para aqui, só assim em traços muito gerais e talvez até com bullets, e tu tratas do resto, que és tão melhor nestas coisas que eu.
Com a vantagem de que neste blogue não há tipas peçonhentas. Nem gente com opiniões muito vincadas, que vêm e argumentam e gesticulam.
Basicamente neste blogue não há gente, ponto. É a vantagem.
Cruzes. *esquisso
:(
Eu concordaria com o Zé, se conseguisse perceber alguma coisa do que ele escreveu:P
Postar um comentário