domingo, 21 de março de 2010

O sonho americano

Não sou fã de Coca-Cola, nunca quis uma casa nos subúrbios nem uma minivan.
Porém, sem o saber, queria um "date" à americana: descomplicado, com um itinerário pré-definido, sem mis-en-scène nem aspirações a de profundis.
Et voilà, excedeu todas as expectativas que eu não tinha. Afinal, dos States também vêm coisas boas.
...Ou será mérito (do) português?

sábado, 20 de março de 2010

Sitting on love


Por contraditório que pareça, passo a esmagadora maioria do meu tempo livre a trabalhar. Depois de ter atulhado a minha secretária de papelada até ao tecto, "mudei-me" sorrateiramente para a mesa da sala. Tal significa que 1) não posso dar jantares cá em casa, 2) passo todo o tempo sentada numa cadeira redonda (o que me impede de dizer que "passo tanto tempo sentada que já tenho o rabo quadrado").
Esta cadeira redonda teve a sua primeira encarnação na Noruega, na década de 1930. Alguém a salvou até ao século XXI e outro alguém a restaurou impecavelmente e pôs à venda numa loja especializada em vintage, retro, art deco... Todos esses fancy names para as outrora chamadas Antiguidades. Como o fancy é caro, eu namorei-a durante muito tempo e depois troquei-a sensatamente por uma série de electrodomésticos brancos. Mas como o verdadeiro amor nunca se esquece, mais tarde voltei a visitá-la e apresentei-lhe o meu pai. Ora, ela caiu-lhe no goto e ele resolveu apoiar a nossa relação.
Como é muito trabalhador, o meu pai não tem muito dinheiro. Contudo, tem um olho fantástico para cores e formas, absorve-as como se de uma palavra se tratasse - um conjunto de elementos (letras/sons) aleatórios e variados, perfeitamente ordenado para produzir um significado uno, um inequivocável sentido. Invejo-lhe essa capacidade, não me conformo com não a ter herdado. Apartes à parte, o meu pai tratou de arranjar todas as letras e sons necessários para reproduzir cadeira. Duas viagens a Paços de Ferreira mais tarde, a segunda encarnação das oito norueguesas habitava já a minha casa na baixa portuense.
Se isto não é o amor, então o que é?

Um ano mais tarde, sete norueguesas mudaram-se para um 5ºEsqTras. Uma ficou para trás, sob pretexto de... já não me lembro... e com a promessa de ser devolvida em breve. Hoje pode ser encontrada no mesmo lugar, riscada até ao tutano.
Se isso não é desamor, então o que é?

"Há palavras que nos beijam"


... e outras que nos chateiam imenso. Pelo menos a mim.
Há cerca de um mês convidaram-me para fazer Geocaching. Leiga, explicaram-me que incluía caminhada, exploração de grutas, orientação por GPS e que o objectivo final era encontrar uma caixa com coisas dentro.
Confesso que a actividade me seduziu... Não tanto pela caminhada, que prefiro fazer sozinha e sem orientação, não tanto pelas grutas, que devem ter aranhas, nem sequer pela caixa - tenho montes e tento livrar-me delas todos os dias. O que verdadeiramente me intrigou na actividade foi... o nome. Geo eu entendo, mas Caching... Uma má tradução de Caixa? Um misspelling de Cashing, caso a caixa tenha dinheiro? Irra, que insondável mistério linguístico.
Hoje despertei às 9h46 com uma revelação a latejar na cabeça: cacher, Francês para "esconder". Ufa, já posso dormir descansada.
Obrigada ao O'Neill pela contribuição pro bono.

Equações de grau zero

E quando pensávamos que dominávamos o algoritmo da humanidade... aparece alguém friamente indecifrável. Raios, detesto não entender. Até porque me obriga a uma expressão facial que faz muita ruga. Gotta work on this.

sábado, 13 de março de 2010

A ternura dos 80


De quando em vez, a televisão por cabo tem um acesso de sobriedade e transmite bons filmes.
Mudando de assunto, neste momento está a dar um clássico da minha juventude que moldou os sonhos de muitas adolescentes de poupa, minhas contemporâneas: o Flashdance. Além da extraordinária (leia-se ambivalentemente, se se quiser) banda sonora, a candura do filme nota-se de imediato no tom das vozes - os diálogos são quase murmúrios, parcos em palavras polissilábicas e abundantes em suspiros. Os figurinos terão sido seguramente guardados em dois cabides, um para os macacões e blusões de cabedal, outro para os bodies em fio dental e acessórios de uniforme policial com brilhantes. O hair design também não é complexo: os homens usam-no relativamente curto, ondulado e brilhante, as boas da fita usam-no volumosamente frisado com repas lisas e as más da fita liso e pingado. Creio veementemente que o grosso do orçamento terá ido para o gelo seco.
Mas a verdadeira candura do filme está noutra dimensão. Falamos de um argumento que pressupõe que uma mulher de vinte e poucos pode aceder em igualdade de oportunidades a um emprego tipicamente masculino, na indústria metalo-mecânica, e ainda acumular outro à noite, por amor à arte. Falamos de um argumento em que um patrão divorciado paga uma lagosta à funcionária por quem desinteressadamente se apaixonou. E falamos ainda de um argumento em que cinco piruetas seguidas, com uma recepção perfeita em quarta posição, executadas por uma stripper sem formação clássica não conseguem impressionar o júri bafiento de uma reputada Academia de Dança. Já uns pulinhos a ritmo acelerado acompanhados de um indicador apontado à vez à cara dos mestres logram o entusiasmo geral e a admissão na escola.
Deliciosamente cândidos, os anos 80. Que saudades!

Sala de estar parado

À direita, o segundo dia de verdadeiro sol do ano. Ao centro, 63 testes por corrigir. À esquerda, casacos de inverno empilhados entre carteiras de uma semana. A minha escolha? O centro. Sem convicção, sem vontade, somente porque me parece aquilo que esperam que eu faça.

in "História Política de Portugal"

sexta-feira, 12 de março de 2010

É tudo uma questão de orientação

E, de repente, amanheceu em mim: está garantida por natureza a elevada qualidade dos leitores que construirem/googlarem caminhos desembocantes neste meu quinto Esquerdo Traseiro.

Coerência e coesão

Há uma coisa que me cria certa espécie - além desta expressão coloquial. Já não bastava o difícil do porquê, quando me deparo com a incógnita do para quem escrever um blog.
Quando, na loucura dos 8 anos, mantive durante uns bons três meses um diário, sabia perfeitamente qual o perfil dos meus leitores: uma criança rechonchuda com queda para penteados volumosos e uma austera adulta nada bisbilhoteira mas muito zelosa da integridade moral das suas crias (não, ela garante que não é mesmo...). Mas agora o caso é outro: apesar de "isto" não ter um cadeado facilmente violável em forma de coração, não é de todo líquido que algum dia chegue a ter um leitor - isto porque umA estimada leitorA já tem.
Ergo: escrevo para mim, para ela ou para os que virão? E quem serão eles? Poderei registar para a posteridade os meus mais íntimos segredos e estonteantes aventuras ou censurar-me-ei pidescamente, temente a um potencial sério e crítico leitor com lícitas expectativas de encontrar uma astuta crónica de costumes com um toque de perspicácia política de tendência esquerdista?
Espera. Não me lembro de um único íntimo segredo nem de uma sequer curta aventura estonteante.
Problem solved.

terça-feira, 9 de março de 2010

Como sempre, atrasada

Não podia deixar de fazer uma menção (tardia) ao Dia Internacional da Mulher.
Para começar, devo confessar que nutro um sentimento de indiferância relativamente aos Dias Internacionais de. Este sentimento, que reside na fronteira entre a indiferença e a repugnância, condiciona logo à partida a minha visão sobre este dia, certíssimo. Acresce a ele o já cliché da inexistência do Dia Internacional do Homem, que parece tornar a celebração da emancipação feminina - não esqueçamos o evento histórico que legítima e nobremente lhe determina a data - num elogio à pobre e desfavorecida. Certíssimo também. Contudo, há um "contudo".
Com a idade aprendo que há experiências reais que mudam a raiz do nosso (pensaríamos) forte e sólido ideário. Foi exactamente o que aconteceu ontem, 8 de Março - Dia Internacional da Mulher, à noite. Aprendi que qualquer Dia Internacional de que valha um jantar delicioso de ratatouille, queijo, muitas ervas e um excelente vinho tinto, pago por um homem a uma mulher num sítio bonito, é um Dia Internacional de válido, nobre e que deve ser celebrado por muitos e muitos anos.

Orgulho de não-mãe

Estou profundamente orgulhosa de mim. Nunca esperei sinceramente que este blog (blogue?) tivesse mais do que um conjunto maricas de cores e uma postagem (post?). Eis senão quando, surpresa, já tem quatro delas e acabou de se tornar público. Sim, senhoras e senhores, este T1 virtual acabou de se tornal internacionalmente conhecido. As we speak, está seguramente a ser lido por uns ávidos, e por sinal muito bonitos, olhos verdes residentes na capital londrina.
Mudaram-se para lá há dois anos e... fazem-me muita falta. Sem eles não vejo as tragicomédias dos 29 a 3D.

domingo, 7 de março de 2010

Abomináveis Domingos de Março

Os domingos são dias abomináveis. Termina a ilusão fugaz de liberdade do fim de semana e escorre sobre mim a pegajosa sombra de mais uma semana de trabalho.
Não me interpretem mal, eu gosto muito de trabalhar e até passo a maioria das horas de luz do fim de semana a fazê-lo. Simplesmente com o domingo vem a certeza de que mais um ciclo começa - e isso custa-me de sobremaneira.
"Detesto a rotina", "Não posso com a monotonia", "Parar é morrer"... Nada disso. Há rotinas quentes e boas, que nos mantêm sãos. O meu problema visceral com o domingo é... medo. Medo de uma semana sem surpresas, medo de cinco dias sem pulos nem acrescentos.
Contudo, este Domingo foi um bocadinho melhor do que o anterior (os anteriores a esse já os esqueci): encontrei um velho amigo que me perguntou quem eu era. Não é que não me tivesse reconhecido, mas aparentemente nunca me tinha entendido na plenitude, fazia-lhe falta saber quem eu verdadeiramente era. Quem eu verdadeiramente sou - aqui está uma pergunta inesperada para um domingo à noite. Munida de alguma boa vontade mas não sem certa dose de desconfiança, respondi com um relato na terceira pessoa que envolvia 29 anos, tacões altos, livros, lemas de "travel light", apartamentos T1, acuidade profissional e o adjectivo "empertigada". Inteligentemente perguntou-me se me era mais fácil falar de mim própria na terceira pessoa. Claro que sim, não gosto de mentir na primeira.

sábado, 6 de março de 2010

O dilema das cores

Isto até que é giro. Cor do título, cor do texto, tamanho da fonte, cor da barrinha, negrito no menu, cor do rodapé... São coisas que me entretêm muitíssimo. Se somasse todos os minutos que já passei a decidir este tipo de mariquices, diria que a minha vida é... 60% maricas.
Nos restantes 40% sou muito viril, atenção. Ainda ontem fui jantar com as amigas (note-se, não é um evento tão regular nem glamouroso quanto a expressão o faz parecer) e lembrei-me que há coisas em mim que ainda espantam as pessoas. "Também falas holandês?"
Uau, sou mesmo viril.

Ora aqui está ele

Sempre disse que nunca teria um blog. Aliás, não leio blogs. Isso é para quem tem muito tempo nas mãos e muito pouca vida.
Como sempre disse que me casaria, teria filhos e nunca adoptaria um cão vadio. E eis que criei um blog.