quinta-feira, 15 de março de 2012

il messaggero non e importante

Chegou a casa, pousou a chave no chaveiro, tirou a trela ao cão e esperou até a ver para decidir se dizia ou não dizia. Era coisa pouca, a história de um homem ao telefone na rua. Não sendo nada de especial, dava uma conversa de circunstância entretida.

Encontrou-a na cozinha, as calças compridas a arrastar pelo chão, a fita de casa no cabelo. Batia ovos para cobrir o empadão. Oh como ele gostava de empadão. E de a ver a bater ovos. Quase se esqueceu do senhor ao telefone e do segredo indizível. Ele não era homem de fazer conversa de circunstância, e suspeitava que ela se inteirara já do mesmo. Daí a perceber o seu segredo, aquele que o fizera parar no passeio, o cão a puxar da trela, e olhar o outro homem com compaixão, não tardaria muito.

Calou-se ainda em silêncio, assentou-lhe a palma da mão no rabo e comeu-lhe o pescoço. Era melhor assim.