sexta-feira, 12 de março de 2010

Coerência e coesão

Há uma coisa que me cria certa espécie - além desta expressão coloquial. Já não bastava o difícil do porquê, quando me deparo com a incógnita do para quem escrever um blog.
Quando, na loucura dos 8 anos, mantive durante uns bons três meses um diário, sabia perfeitamente qual o perfil dos meus leitores: uma criança rechonchuda com queda para penteados volumosos e uma austera adulta nada bisbilhoteira mas muito zelosa da integridade moral das suas crias (não, ela garante que não é mesmo...). Mas agora o caso é outro: apesar de "isto" não ter um cadeado facilmente violável em forma de coração, não é de todo líquido que algum dia chegue a ter um leitor - isto porque umA estimada leitorA já tem.
Ergo: escrevo para mim, para ela ou para os que virão? E quem serão eles? Poderei registar para a posteridade os meus mais íntimos segredos e estonteantes aventuras ou censurar-me-ei pidescamente, temente a um potencial sério e crítico leitor com lícitas expectativas de encontrar uma astuta crónica de costumes com um toque de perspicácia política de tendência esquerdista?
Espera. Não me lembro de um único íntimo segredo nem de uma sequer curta aventura estonteante.
Problem solved.

4 comentários:

lampâda mervelha disse...

Do pouco que ainda li, gostei imenso da forma como te articulas nas palavras.

Wiwia disse...

Foi seguramente de toda a ginástica que pratiquei em "piquena"...

Sophia disse...

Queres um conselho de quem tem anos de blogosfera? não te tornes intima de ninguém, mantem o mundo virtual como mundo virtual. Não o mistures, nada de cafézinhos e desabafos. Só assim poderás continuar a escrever à vontade. As excepções? vais tê-las e saberás quando valerem a pena.

Wiwia disse...

Há uma coisa chamada "contradição semântica", que eu aprecio imenso em papel e em melodia mas que não tenho o hábito de inserir no meu quotidiano.
Posto isto, "íntima" e "blogosfera" num mesmo enunciado... só mesmo se numa música do Sérgio Godinho.
Mas de qualquer forma, obrigada pela genuinamente boa intenção, Margarida.