sexta-feira, 30 de julho de 2010

Interlúdio: Da porcaria dos sapatos.

Quando há 10 anos eu dizia a mulheres que me rodeavam, "Sim, vou comprar estes sapatos verde-alface mesmo sabendo que não combinam com nada do que tenho porque a ideia é mesmo essa, serem o ponto de fuga do meu visual ou somente pretexto para comprar uma mala nova", era olhada de lado pelo meu gosto duvidoso e cisma em futilidades que não prestavam para nada.


Hoje pululam as fotografias dos sapatinhos delas por toda a parte. Aparentemente agora as mulheres medem-se às palmas dos pés.

Só.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ensaios não Destrutivos

Dedico 30% do meu tempo a testes sobre a solidez de estruturas alheias. Se em qualquer Zara os empregados têm descontos, porque é que eu não posso virar o isótopo para mim de vez em quando? Que injustiça. Isto de pensar o que está mal para depois consertar cansa.

Por favorzinho não!

Não voltes, não voltes, não voltes!




Vade retro, urticária do demo!




E assim se esgotou o stock de pontos de exclamação deste blogue.

terça-feira, 27 de julho de 2010

É só uma ideia



Se calhar a RTP já desencantava um ou outro lequetor do tempo em que já se aprendia ingalês nas escolas, para as esporádicas vezes em que há que prenunciar palavres em estrangeiro.

- Ah, mas no francês é um brilharete e tal.
- Ó pá, um gajo qualquer a recibos verdes e 2,5euros à hora, vá lá.

Já não basta a Baba de Caracol e o seu mítico "devolveremos-lhe o seu dinheiro".

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Ora bolas e soutiens

É que eu não sou mesmo nada do género de queimar o soutien e julguei que hoje era o dia em que finalmente diria, Sempre é verdade que as mulheres precisam de homens para alguma coisa!, até porque as portas eram pesadas para chuchu e os gatafunhos do carpinteiro roçavam o indecifrável, mas não é que para minha grande desilusão lá consegui fazer tudo sozinha e por conseguinte continuo só a querer homens e não a precisar deles? Oh c'um caraças.

Isto das férias


é desconcertante.
Há tanto por fazer e para fazer que uma pessoa não sabe para onde se virar ou, no mínimo, por onde começar. E assim passa um dia e tapou-se um buraco aqui e ali, viu-se pedaços de um filme, retribuiu-se telefonemas e não se fez bolha de jeito. Mas é capaz de ser só aquele choque inicial que vai ao sítio com o hábito.

Diz a malta que está de férias, claro.
Sim, porque aqui arranha-se e não há cá preocupações dessa estirpe. Deve ser como diz o outro, Arbeit macht frei.


domingo, 25 de julho de 2010

Olhe, desculpe

Tanto se escreve, filma e canta sobre o sentido da vida e no entanto nunca ninguém nos disse ou garantiu que ela tivesse um!

Ou perdi algum episódio e ninguém me disse nada?

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Chica-experta

Vale, que dicen que sí, que soy.


(Ufa... benditas sejam as propriedades colantes do barro.)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Qual é a coisa, qual é ela...

...pior do que uma pedrinha decorativa?



Um ambientador que imita uma pedrinha decorativa.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Dia D

Amanhã por esta hora estarei aqui,


seguramente deliciada a ouvir The Divine Comedy.

Como é que se sabe

...que se anda a dormir de menos?


Quando se tenta enroscar a tampa do reservatório da máquina de café numa garrafa de água.


Por exemplo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Chico-espertismo

Hoje tenho um daqueles exames que licenciam a malta. Vergonhosamente e não sem pena, confesso que a única coisa que fiz a esse propósito foi um par de downloads, ler quatro 503 avos de um livro e ouvir o newsflash em que o Casillas beija a namorada. Ah, é escrito em espanhol.


De modos que, se me passam, só poderei concluir que sou uma chica experta.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Apaixonei-me






É ridiculamente baixo, peludo e diz coisas assim:

- Could you hand me over the newspaper? I wanna check out the ads.
- You can't read those, they're classified! Haa-haaaaa...

Adorável, o meu Alf.

terça-feira, 13 de julho de 2010

A vantagem de se ser desarrumado

é ter-se tudo sempre à mão.

Disseram-me, claro.

sábado, 10 de julho de 2010

Da Morte e da Morte



Nunca se chegou a perceber muito bem por quem é que ele, afinal, se tinha apaixonado. Tinham ambas o mesmo nome, e se com uma o magnetismo físico era óbvio, com a outra não se negaria um entendimento profundo com nuances de, no mínimo, admiração e, no máximo, endeusamento.

Ficou igualmente por saber para sempre se morreu ou sobreviveu ao episódio da garrafa de ar, assim como ficará eternamente na penumbra do anonimato a dona do pé que pisava a alimentação de oxigénio.

Tinha tanto para dar, o Bráulio. Cativara-nos desde o primeiro instante: o sobretudo encardido de odor a tabaco, a barba de três dias, as rugas nos olhos que evocavam olhares semi-cerrados a metade do tempo, a parcimónia das palavras que imaginámos de imediato inversamente proporcional ao fluxo do pensamento. Um homem mergulhado na luta contra o crime e na auto-defesa frente à impiedade da paixão.

Vimo-lo apenas duas vezes. Duas vezes inesquecíveis. Sentado a um balcão onde ouvia conversas. Depois disso, o A. distraiu-se numa das suas demandas pelo sentido da vida ou pelo maço de tabaco e, quando deu por ela, tinham-lhe roubado o blogue.


Com um beijo profundo de carinho e admiração pelo A., que lida agora pela segunda e mais ímpia vez com a morte.


Top Ten dos Casais

1. Tomate cherry & manjericão.

2. Brie & compota de framboesa.


3. Pão & manteiga.

4. Tawny fresco & foie gras.

5. Avelãs & mirtilos secos.

6. Endívias & roquefort.

7. Pimentos Padrón & muito sal.

8. Monte da Peceguina tinto & azeitonas pretas.

9. Fondant de chocolate & sorvete de limão.

10. Jaquinzinhos & arroz de grelos.

E se um desconhecido lhe oferecesse flores?


http://grllooking4excitement.files.wordpress.com/2009/04/prince-charming2.jpg


Nos anos 80, seria obviamente Impulse.

Mas e hoje? Onde acaba a coragem do impulso e a excentricidade do momento para dar lugar à evidência do desespero?

Sonhamos com as coincidências cósmicas que fazem saltar príncipes e princesas dos arbustos para aterrarem nos nossos colos, almejamos momentos mágicos em que sacam das cartolas o Inesperado, suspiramos a cada "boy meets girl" no grande ecrã desde que não meta a Meg Ryan. Mas vai-se a ver... torcemos o nariz com cepticismo e desconfiança de cada vez que alguma coisa remotamente semelhante acontece de facto.

Que de errado se passa connosco?

sexta-feira, 9 de julho de 2010

"Ups, caiu-me um braço."

...

Repórter - Como foi que aconteceu?

Senhor - Então... estava a cortar a lenha e acelerei com o pé, não devia. Como estava de pé, po's claro, só tive tempo de pensar "Lá se vai a minha mão".

Repórter - E como é que o senhor se sentiu quando viu a sua mão separada do corpo?

Senhor - Senti-me... senti-me bem, menina. Um bocado triste, não é... mas senti-me bem, estive sempre consciente.

Jornal da Noite, TVI, 09/07/2010

Vir sapit qui pauca loquitur.

Um Post dos Bons

Um post dos bons iria ao encontro de temáticas tais como os cortes no orçamento para a cultura, que profunda e sinceramente me preocupam a mim e muitos outros; a podridão "aqui ao lado" do sistema de educação português, que caminha a passos largos para o abismo em todos os sectores e ninguém dentro dele parece de facto ver a conjuntura geral, a irreversibilidade das consequências durante três gerações e possíveis saídas de emergência; "O Banquete" de Platão e a impossibilidade de contornar a questão do par humano, por muito que se apologize em crescendo a individualidade; a preciosidade estética e intelectual do Mirandês e o património oculto que representa; o alargamento da exploração da plataforma continental e a quimera dos Novos Descobrimentos do século XXI; o ...

Mas não. Vamos ficar-nos por um post dos fraquinhos, em que me lamento por saber exactamente aquilo que devia fazer e me lamurio por teimar em fazer exactamente o contrário. Como por exemplo esta encomenda de "La Regenta" aqui ao lado.

(E para terminar, um cliché foleiro:) Estranha forma de vida, hem?

http://www.markstivers.com/cartoons/Cartoons%202003/Stivers%205-1-03%20I%27m%20into%20nihilism.gif

Las cosas claras y el chocolate espeso



ou "Trigo limpo, farinha Amparo" são lemas que não se coadunam com blogo-escrita... acho.
De outra forma, forçavam-nos a uma secção Erratas e Adendas. Não?


Mas eu não percebo nada disto. Muito a sério. Portanto e porque prezo honestamente os meus pouquinhos mas resistentes leitores:

ERRATA: Onde abaixo se lê "Noite de Sushi e..." dever-se-ia ler "Numa noite de Sushi e..."

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Noite de Sushi e Outras Coisas Cruas


P - Então vamos?
W - Vamos lá!
P - Está combinado, então.
W - Combinadíssimo.
P - E quem vai?
W - Ora... A, B e C não podem. O D... a mulher não o deixa.
P - Ainda essa merda?
W - Ainda. Imagina.
P - Achas o E boa ideia?
W - É complicado, separou-se agora da F e as coisas ainda estão muito...
P - Frescas?
W - Não, pá, não tem dinheiro. Não pões mesmo a hipótese de ir com a G?
P - Vai-te foder.
W - É justo. E então, vamos só os dois, é?
P - ... Acho que não.
W - Seria muito estranho.
P - Então não vamos, não é?
W - Parece que não.
P - Combinadíssimo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Lista de cheiros bonitos

1. Relva fervilhante acabada de regar.
2. Champô, sabonete e creme em corredores e elevadores antes de jantar.
3. Mademoiselle Chanel.
4. Madeira e giesta a estalar no Alentejo, ao sair do ar condicionado.
5. Rua de St Ildefonso quando a fábrica de biscoitos coze.

sábado, 3 de julho de 2010

O que vem depois

do "prazer de ter um livro para ler e (...) o fazer"?
A satisfação? O alívio? A sensação de missão cumprida?

Nã. Uma grandessíssima dor de cabeça.

Pelo menos se substituirmos "um livro" por "quatro livros" de fin du siècle espanhol e "ler" por "ler, dissecar, contextualizar nexos histórico-sociais, catalogar sub-género e analisar especificidades morfossintácticas". Em 20h.

Agora queria ver o Pessoa a fazer poesia com isto. Ó Fernando, assim também eu!

Us Listening to Her


Cruzaram-se numa passagem estreita, quase não deu para ignorar. Ela continuou a andar mas abrandou o passo e espreitou por cima do ombro. Lá estava ele, tal e qual como ela se lembrava. Em segundos, fez as contas ao embaraço possível, à frustração provável do reencontro... e parou. Girou sobre os calcanhares e tocou-lhe ao de leve. Macio como sempre, morno àquela hora da tarde.

Abriu-se. Há quanto tempo já não se encontravam, porquê esta parvoíce de adiar sempre para "um dia destes"? Ah, assim é que são bons os encontros, a surpresa, assim sem contar. Sim, claro, parece que era mesmo para acontecer. Respirou fundo.


Na cozinha, estremecemos ao ouvir aquele inconfundível ranger. Não podia ser, não pensáramos que voltasse a acontecer.

Mas aconteceu. E a casa encheu-se de Lizst.

* Degas, "Manet Listening to His Wife Play the Piano"