Nunca se chegou a perceber muito bem por quem é que ele, afinal, se tinha apaixonado. Tinham ambas o mesmo nome, e se com uma o magnetismo físico era óbvio, com a outra não se negaria um entendimento profundo com nuances de, no mínimo, admiração e, no máximo, endeusamento.
Ficou igualmente por saber para sempre se morreu ou sobreviveu ao episódio da garrafa de ar, assim como ficará eternamente na penumbra do anonimato a dona do pé que pisava a alimentação de oxigénio.
Tinha tanto para dar, o Bráulio. Cativara-nos desde o primeiro instante: o sobretudo encardido de odor a tabaco, a barba de três dias, as rugas nos olhos que evocavam olhares semi-cerrados a metade do tempo, a parcimónia das palavras que imaginámos de imediato inversamente proporcional ao fluxo do pensamento. Um homem mergulhado na luta contra o crime e na auto-defesa frente à impiedade da paixão.
Vimo-lo apenas duas vezes. Duas vezes inesquecíveis. Sentado a um balcão onde ouvia conversas. Depois disso, o A. distraiu-se numa das suas demandas pelo sentido da vida ou pelo maço de tabaco e, quando deu por ela, tinham-lhe roubado o blogue.
Com um beijo profundo de carinho e admiração pelo A., que lida agora pela segunda e mais ímpia vez com a morte.
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