Andei a manhã toda de lábio descaído e tremelicante, a inspirar o ar decadente de rabanadas que vinha de casas da vizinhança. Dei por mim a reviver com demasiada nitidez o despertar mais cedo que o costume na véspera de Natal, entusiasmada pela chegada dos miúdos de Lisboa - de tão longe vinham, como sabiam de cor o caminho? - e sobretudo compelida pelo aroma da canela e do limão e do mel a ferver preguiçosamente no tacho da calda. Era um dia enorme, bagucento, o segundo melhor do ano, e tudo corria como se esperava, com as mulheres e os maridos, naturalmente os miúdos, que éramos nós, naturalmente como já nada é hoje aqui nesta casa, que fica por cima das casas que cheiram a rabanadas quando é suposto, como é natural.
Saí à rua. Uma carrinha de farturas estacionada à porta.
sábado, 19 de novembro de 2011
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6 comentários:
Hmmm... se calhar, somos vizinhas.
Isso era lindo, íamos já pôr os nossos bonés e mascar uma fartura de cotovelo pousado na roulotte e cigarro no canto da boca. :)
Já foste às "tuas" farturas? É que eu fui às "minhas" e não eram grande espiga. Mas sei que há sandes de presunto e churros manhosos recheados, vi jovens a fazer a nossa potencial figura na roulotte :p
Engraçado como sentimos tanto a falta daquilo que não nos era assim tão importante quando já não o temos.
A pastelaria aqui do bairro faz sonhos deliciosos, eu que não gosto disso comi um, lembrei-me da casa da minha mãe, dela a cozinhar que nem doida, o prato favorito de cada filho, netos e genros, de como todos adoram os sonhos e farturas e, talvez porque vou pela primeira vez em 6 anos passar o Natal sozinha, tive, através daquele sonho, todo o sabor delicioso das reuniões de família no Natal.
Ainda hoje fui cheirar o teu blogue e não me cheirou a nada. Agora entendo, andas com esses dedinhos besuntados de óleo, açúcar e canela. :)
e felicidade, Wiwia, felicidade.
Ainda não decidi se me quero partilhar, esta nova eu, ou não.
Pensei em ti, vim cá para te espreitar e matar saudades, encantei-me com as farturas, claro está.
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