ouvi uma dúzia de vezes. Diziam-me que não estava bem que não me incomodasse com ocasionais trocas de nomes, com mensagens de ex-namoradas e fotografias esquecidas em gavetas fechadas. Não estava bem. Mas eu tinha vinte anos e acreditava que a transparência despia. E que as histórias mereciam respeito e tinham um lugar no presente, indissociável das pessoas que somos neste minuto que passa. Era detentora, portanto, de uma auto-confiança do tamanho de um mamute depois do almoço de domingo e de uma visão periférica de 360 graus, que usava sem sequer tentar. Coisas próprias da idade.
Os anos avançaram e vieram as chagas para lembrar que há um fim e coisas ainda piores que fins. Hoje, à janela, enquanto escrevia a uma amiga precisamente o contrário, apercebi-me de que.
Sou exactamente a mesma substância. Sou os mesmos erros, sou a mesma inconsequência consciente e o mesmo entusiasmo, gosto despreocupadamente, não tenho medo absolutamente nenhum de me magoar até me magoar, acolho o "dark side" hospitaleiramente, vivemos bem os dois e acreditamos que a vida acontece nos intervalos, naqueles minutos em que tudo pára e só se ouve.
Tum-tum, tum-tum, tum-tum.
domingo, 5 de junho de 2011
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8 comentários:
Que bonito. OV ai no meio, sem quase não passar despercebido.E ainda bem não foi assim que o tempo te fez.
K.,
OV? Não faço ideia do que fala. Mas você parece muito esperto, portanto deve ser.
;p
Diástole perfeita.
LM,
Lá vou ter eu que googlar, né?
não me faças chorar, oh parva.
Indieotta,
Pelo menos não ilustrei com Anne Guedes, pensa assim. ;)
:*
:):):)
eu também acreditava que a transparência despia. e agora fiquei agarrada à frase. linda.
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