domingo, 5 de junho de 2011

"Quem não se sente não é filho de boa gente",

ouvi uma dúzia de vezes. Diziam-me que não estava bem que não me incomodasse com ocasionais trocas de nomes, com mensagens de ex-namoradas e fotografias esquecidas em gavetas fechadas. Não estava bem. Mas eu tinha vinte anos e acreditava que a transparência despia. E que as histórias mereciam respeito e tinham um lugar no presente, indissociável das pessoas que somos neste minuto que passa. Era detentora, portanto, de uma auto-confiança do tamanho de um mamute depois do almoço de domingo e de uma visão periférica de 360 graus, que usava sem sequer tentar. Coisas próprias da idade.

Os anos avançaram e vieram as chagas para lembrar que há um fim e coisas ainda piores que fins. Hoje, à janela, enquanto escrevia a uma amiga precisamente o contrário, apercebi-me de que.

Sou exactamente a mesma substância. Sou os mesmos erros, sou a mesma inconsequência consciente e o mesmo entusiasmo, gosto despreocupadamente, não tenho medo absolutamente nenhum de me magoar até me magoar, acolho o "dark side" hospitaleiramente, vivemos bem os dois e acreditamos que a vida acontece nos intervalos, naqueles minutos em que tudo pára e só se ouve.

Tum-tum, tum-tum, tum-tum.

8 comentários:

K disse...

Que bonito. OV ai no meio, sem quase não passar despercebido.E ainda bem não foi assim que o tempo te fez.

Wiwia disse...

K.,

OV? Não faço ideia do que fala. Mas você parece muito esperto, portanto deve ser.
;p

lampâda mervelha disse...

Diástole perfeita.

Wiwia disse...

LM,
Lá vou ter eu que googlar, né?

Indieotta disse...

não me faças chorar, oh parva.

Wiwia disse...

Indieotta,

Pelo menos não ilustrei com Anne Guedes, pensa assim. ;)
:*

Nawita disse...

:):):)

estela disse...

eu também acreditava que a transparência despia. e agora fiquei agarrada à frase. linda.