sábado, 14 de janeiro de 2012

Travessia no deserto

A expressão veio da boca grande e vermelha de uma mulher pequenina. Tem quarenta anos e descrevia os seus trinta. De alguma forma me revejo e suponho que todos nos revejamos, neste estádio, quando não estamos distraídos por fraldas com cocó. Ao fim e ao cabo, três décadas são um tempo razoável para deixar assentar a euforia das expectativas e ansiedade dos projectos que se formulam em catadupa desde os oito, nove, dez. Por outro lado, é um prazo também expectável para a expiração do prazer que nos deram pessoas e práticas desde as primeiras escolhas sérias. É, portanto, um estádio propício a um novo ciclo de escolhas, escolhas que levam tempo porque não se sabe o que se quer, é certo, mas sabe-se irritantemente bem o que não se quer. E então nasce a sensação de silêncio, de solitude, de morna calma zumbida que faz o deserto.

Até que toca o telefone. É mais um que se divorcia, quer saber como estás, que tantas vezes pensou em ti, que não o julgues por isso, andou em círculos e não atravessou nada, e que tal um cafezinho.

7 comentários:

Prezado disse...

Um lugar comum, já vi isso não sei onde...

Wiwia disse...

Eu também já vi: o mês passado, no mesmo telefone.

Calíope disse...

O deserto sempre exerceu um grande fascínio sobre mim, talvez por me considerar num oásis e querer saber o que se encontra para lá das palmeiras! :)

K disse...

Hmm..hmm...Isso é tudo muito interessante e tal. Parece-me que estas a precisar de falar. Cafezinho?:P

Wiwia disse...

Calíope,
Pessoas que passam o Natal na Índia não contam. ;P

K,
Cafezinho para falar?

...

Caramba, sempre assumi que tu eras homem. Claro, miúda, quando quiseres.

K disse...

sim. cafezinho. terça?

Sou a de saia vermelha da H&M. Nao dá para enganar.

Wiwia disse...

K,
Terça, hoje? Está um nadinha frio para saia, ó fresca.